Conheci uma rapariga, que era toda cheia de confiança, bastante independente, viajava quando e com quem queria. Mesmo na casa dos 30, dizia que filhos eram os gatos que adorava.E que jamais teria filhos.
Sempre cheia de teorias quanto ao vegetarianismo, que praticava há mais de 10 anos.
E completamente contra qualquer das religiões existentes.
Fomos amigas durante uns anos, até posso dizer que bastante amigas. Era uma pessoa que eu gostava bastante. Gostava da sua essência. E admirava o seu estilo de vida.
Mas um belo dia, conheceu um rapaz através de um chat. Quem o via, dizia que ele não partia um prato.
Dias depois já estavam a viver juntos. Tudo muito apressado, avisei-lhe eu. Ela maior e vacinada, dizia saber bem o que estava a fazer.
Não sei que raio o rapaz tinha, eu achava-o giro, mas pouco mais, tinha um ar um pouco enfemeninado, mas parecia uma pessoa educada e amigo da namorada.
Qual não é o meu espanto quando a M. me diz que está grávida, passados uns 2 meses de viverem juntos. E estava feliz, dizia que queria muito o filho. A minha alma estava parva. Tantas conversas tinhamos tido sobre o tema "Filhos", como o seu pensamento da altura me fazia confusão e agora de repente estava grávida.
Infelizmente sofreu um aborto espôntaneo. Pensei que ficasse tudo por ali, e que ela pensasse melhor no que era ter um filho, com um rapaz que vivia junto havia dois meses.
Nova notícia de gravidez, novo espanto para mim...
Se éramos próximas, mais ficámos, até porque eu também estava grávida de cerca do mesmo tempo e até que era giro partilharmos as vivências do dia-a-dia.
Quando a D. nasceu, fui das primeiras a saber, no dia seguinte lá estava eu com um barrigão de 9 meses, com a recém-nascida nos braços e a apoiar a minha amiga que estava a transbordar de felicidade.
Depois do nascimento da minha filha, as visitas a casa de uma e de outra eram uma constante.
Tornámo-nos confidentes.
Começou a contar-me quem verdadeiramente ela tinha como companheiro. Pois chega a um ponto que uma pessoa não aguenta mais.
Ela desconfiou novamente que estava grávida. Os dois sem trabalhar, com uma filha pequena, em risco de perder a casa. Aconselhei-a a não ter o bebé, pois não tinha condições.
Assim que contou ao namorado, ele disse logo que não queria que fizesse um aborto.
Durante a gravidez, desde pescoços apertados, a tareias em frente à filha pequena, queixas na polícia...
Ele saía de casa uma semana, depois estava de regresso. Logo cheio de muito amor para dar.
Ele claro, odiava-me, pois sabia que eu fazia qualquer coisa pela minha amiga.
E fiz. Trouxe-a para minha casa. Com a filha. Dei-lhes de comer. Tentei arranjar um rumo para a vida delas.
Ele ligava-lhe a toda a hora. Até chegou a insinuar que ela estava na minha casa porque andava enrolada com o meu marido...
Ela pedi-me ajuda. E eu nunca virei as costas. Dei-lhe o que tinha e o que não tinha.
E o que aconteceu? Ela voltou para ele. Ele conseguiu metê-la contra mim. Deixámos de ser amigas. Não cheguei a conhecer o filho dela.
Hoje sei que estão até casados! E que até ela já é Jeová, como toda a familia dele. Está "presa" em casa, mãe a tempo inteiro. Ele conseguiu afastá-la de tudo e todos.
Fingem um sorriso. Como se fossem o casal mais feliz do mundo.
Mas para mim é só fachada...
Quem dá uma chapada, um aperto no pescoço, ou bate numa grávida só porque sim, mudará de um dia para o outro?
E que fazer a quem não quer ser ajudado? Fugindo da luz ao fundo do túnel?
Era mesmo a vida que um dia querias?...
...É que por mais que tente, juro que não entendo...
Eu até sei que o amor por vezes é cego. Mas para quem dizia que já nem o sequer amava, era mais o medo...
O que mais me choca, é que ela não era uma parvinha qualquer que nada sabia da vida...
Hoje lembrei-me dela, porque é uma pessoa que me marcou muito. Que cortei relações, mas tenho pena por isso. Ela mandou-me à cara que eu não a ajudei. Foi mesmo mal-agradecida. Não sei que mais poderia ter feito...mas enfim...